
Foto: Sérgio Vale
Durante o Seminário Internacional de Bioeconomia e Sociodiversidade – Txai Amazônia, realizado na Universidade Federal do Acre (UFAC), em Rio Branco, o líder indígena Francisco Piyãko, do povo Ashaninka e coordenador da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (OPIRJ), participou do painel sobre Extrativismo Sustentável e Economia da Amazônia. Em sua fala, Piyãko fez um alerta contundente: os caminhos do desenvolvimento não podem negligenciar os saberes dos povos indígenas e nem colocar suas tradições em segundo plano para atender interesses comerciais.
Para Piyãko, o conceito de sustentabilidade que orienta os debates no mundo exterior precisa se alinhar ao que é vivido na floresta. “Nada está escrito nas árvores, mas aprendemos com o tempo o papel de cada uma delas”, declarou, reforçando que o conhecimento do povo Ashaninka é fruto de gerações de convivência e respeito com o território. Ele destacou que sua comunidade vive de forma autossuficiente, com base em saberes tradicionais que vão desde o plantio de algodão até a produção de utensílios, alimentos e vestimentas, sem depender da indústria.
O coordenador da OPIRJ também fez críticas à forma como acordos comerciais e cadeias de fornecimento vêm sendo estruturados. Segundo ele, essas iniciativas muitas vezes ignoram a dinâmica das comunidades, impondo lógicas de mercado que geram desestruturação social e ambiental. “Transformar a floresta em mercadoria é desrespeitar sua essência. Quando vendemos produtos e passamos a comprar comida, estamos andando para trás”, disse.
Ao comentar sobre a história de resistência e reconstrução cultural dos Ashaninka, Piyãko lembrou que a floresta sempre foi um espaço coletivo, sem cercas, onde o conhecimento é transmitido por meio da vivência. “Nossas casas são feitas para durar poucos anos, porque acreditamos que cada geração deve construir a sua. Isso faz parte do aprendizado. Nossa verdadeira casa é o território”, afirmou.
Ele ainda alertou para os impactos negativos do extrativismo predatório, como o manejo de madeira sem o devido controle, que traz lucros para poucos e danos permanentes para o meio ambiente. “Vejo muitas madeiras sendo retiradas, mas as comunidades continuam sem benefícios. Explorar não é o mesmo que cuidar. Precisamos de relações que respeitem a floresta como um todo, não apenas como fonte de produtos”, enfatizou.
Encerrando sua participação, Piyãko convocou os participantes a refletirem sobre o atual modelo de desenvolvimento adotado na Amazônia. Segundo ele, sem escutar os povos indígenas, que conhecem profundamente a floresta, não haverá soluções reais para os desafios do século. “O que vem de fora deve somar, não substituir. Quem vive na floresta entende o valor do todo. Só assim construiremos uma bioeconomia que respeite a vida, a diversidade e o futuro de todos”, concluiu.